O que é?
No início do século passado a Madeira era conhecida pela ilha da aguardente. O consumo excessivo desta bebida torna-se um problema social. Em 1927 encerram 34 engenhos de cana sacarina, a produção diminui e a sua comercialização foi controlada. Em alternativa, o povo começa a produzir clandestinamente a sua própria aguardente, a partir da borra de vinho, atividade severamente punida pelas autoridades. Do Norte para o Sul da Ilha iniciou-se um transporte ilícito, percorrendo-se 25 km com cerca de 50 litros às costas e, apesar das diversas detenções, a atividade durou, sensivelmente,50 anos por trilhos que ficaram conhecidos como a rota do contrabando.
O que se pretende?
Dada a importância histórica dos factos sucedidos, no âmbito do Festival Aqui Acolá 2016 - Ponta do Sol, deu-se início a um trabalho de investigação e de recolha de dados que permitiram, desde logo, a esquematizarão de uma reprodução histórica através de documentário. Das entrevistas efetudas, conseguiu-se vislumbrar o risco e a valentia de um povo que com 'arte e engenho' conseguia contornar as adversidades que se impunham. Na verdade, não existe uma só Rota, mas sim várias "Rotas do Contrabando" por forma a iludir as autoridades que perante tamanha façanha viam a sua missão dificultada.
Face ao exposto, decidiu-se reproduzir e vivenciar, de acordo com os dados recolhidos, algumas das Rotas utilizadas para o contrabando da aguardente de borra de vinho. Para tal, no dia 11 de Março e 18 de Novembro de 2017, a RETOIÇA - Associação Cultural, Desportiva e Recreativa, em parceria com o Município da Ponta do Sol e Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal, deram início a um Ciclo de Pedestrianismo dedicado exclusivamente à(s) Rota(s) do Contrabando.
Historial
A denominação "Rota do Contrabando" e toda a sua envolvência surgiu das múltiplas histórias que o Rui Nélson (associado Retoiça) tinha vindo a recolher junto de pessoas que vivenciaram na primeira pessoa (e não só) a perigosa e árdua vicissitude do ciclo da aguardente contrabandeada. Daí até ao interesse do realizador cinematográfico Eduardo Costa (associado Retoiça) pelo "argumento" foi um pequeno passo. Dada a substância e enredo histórico de um ciclo entendido como ilegal que ia desde a engenhosa destilação até à sua comercialização clandestina, os referidos intervenientes decidiram apresentar à Comissão do Festival Aqui Acolá 2016 uma proposta para uma reprodução cinematográfica, em forma de documentário, destes factos históricos desconhecidos do grande público. O entusiasmo foi imediato e partilhado por toda a comissão, dando assim a sua anuência para a devida produção e realização do referido documentário, sob a chancela da Eduardo Costa Produções, e apresentação no decorrer da II edição Festival Aqui Acolá, mais concretamente no dia 07 de Maio de 2016.
As 4 sessões efetivadas no âmbito do Festival Aqui Acolá estiveram esgotadas e a crítica foi extremamente favorável, como tal, decidiu-se replicar a exibição do documentário, nesse mesmo ano, um pouco por toda a ilha. Uma dessas exibições aconteceu no Teatro Municipal Baltazar Dias no dia 24 de Junho de 2016, com sala esgotada.
Posteriormente, este documentário foi selecionado para constar no mítico Festival de Cannes no ano de 2017, na categoria de "Court métrage - Short film corner". Ainda no decorrer do ano de 2017, o mesmo documentário foi vencedor na categoria de "Curta-metragem documental" do Figueira Film Art 2017, Festival de Cinema da Figueira da Foz.
O princípio da aposta no documentário tal como nas caminhadas, alicerçou-se na premissa de fazer do Festival Aqui Acolá um festival "todo o ano", fazendo com que este não se esgotasse em si próprio à passagem de cada edição.